09/11/2011

Decisão

Decidiu o que nem bem sabia. O importante é que decidiu. Doeu, continua doendo, e vai doer.
Não tinha outra saída. Tinha que decidir.
Cansada de vírgulas, reticências, parênteses e ponto e vírgulas, abusou do corretor ortográfico da vida, fez um enorme borrão em cima de tudo que havia construído, e de imediato colocou um ponto final.
Mal sabia que o ponto final seria o início de uma história mais misteriosa do que a anterior, nem doce nem amarga, nem feliz nem triste, nem interessante nem entendiante. Apenas indecifrável. E não são assim os sentimentos que mais nos intrigam?

25/09/2011

Tango

Não que achasse errado ou ficasse chateada com aquilo, mas sabia que não era bem vista pelos vizinhos. Cansada de vestir a máscara da alegria, vestiu-se de sujeira e podridão. A lascividade pulsante e corrente em seu sangue, cristalizava em seus olhos a vontade do desconhecido, do perigoso e do anônimo. Não era de ninguém, mas pertencia ao mundo, amando e odiando cada ser, cada centelha de vida que atravessou seu caminho.
Perfumava-se com cerveja barata e fumaça de cigarro. O toco do batom marcava sua boca e as bochechas. Seu cabelo era naturalmente penteado, num emaranhado de nós. Sua melhor roupa era sua pele nua em pelo, nem pouco, nem muito, na medida.
Na perversão da vida era a estrela, sem nem precisar ser atriz.

01/08/2011

28/07/2011

Des-Re-Encontro

O passado começou a pipocar na sua frente. Um pedacinho do passado aqui, outro pedacinho ali, e mais outro logo mais a frente. Se abaixou para juntar esses pedacinhos, mas as dores da idade não permitiram que alcançasse. Pegou uma vassoura, e junto todos esses pedacinhos de passado. Com a ajuda de uma pá, colocou tudo em cima da pia velha e enferrujada do banheiro.
Começou a lavar todos esses pedaços na tentativa de tornar o futuro algo mais feliz e aceitável. Mas o passado não pode ser mudado. Nem o seu, e nem de todos que passaram pela sua vida.
A vida é feita de reencontros, que mais parecem desencontros daquilo que almejou para o futuro.

07/07/2011

De repente: Triste!

Não abriu as janelas da casa prá não ver o clima lá fora. Pouco se importava se estava sol ou se chovia. Aliás, ultimamente, pouco se importava com qualquer coisa.
Sentia-se cansado pelas noites insones, mas não iria se deitar. Qual o propósito de se rolar de um lado pro outro da cama se não vai dormir mesmo? Por um momento riu e pensou: Estou virando um zumbi. O riso foi momentâneo, pois o peso da vida caiu em sua cabeça.
Não pensava em comer nada. O estômago doía e sua boca amargava, mas não pensava em comer absolutamente nada. Abriu os armários, pegou um pedaço de queijo embolorado e enfiou goela abaixo. Isso bastaria.
Desligou o telefone, as tomadas, tirou os quadros da parede, o sorriso do rosto, as roupas... a alegria, a vontade, e o prazer. Desligou tudo.
Sentia-se incapaz de viver, e agarrou-se na única certeza que tinha: A capacidade... de morrer.

25/06/2011

Gone!

E não é que percebeu que nada daquilo valia a pena? Naquela tarde sentiu que seria o último encontro e que não se veriam mais. Evidente que ainda se comunicariam de alguma forma, mas a presença física seria substituída por fibras óticas e ondas magnéticas.
Pensou em ficar triste, mas ponderou: Não se alimentam sentimentos impossíveis. Se pensou em ficar triste, é porque não estava, e por isso não necessitava ficar.
Levantou-se, encheu seu copo de qualquer coisa com teor alcoólico suficiente prá elevar os ânimos. Ligou o som, dançou, cantou, bebeu... e dormiu.

Sonhou com Scarlet O'Hara: Amanhã é um outro dia.

15/04/2011

Embriaguez

Bastaram 5 minutos para que os perfumes se misturassem durante o intenso contato entre as peles. 5 minutos apenas. Nada de olhares e nenhuma troca de palavras. Foram beijos ardidos, mordidos, chupados e molhados, beijos na nuca, no rosto, nos olhos, na testa e no pescoço. Corpos entrelaçados, unidos, como se fossem um. A música ficava cada vez mais distante, e as pessoas ao redor invisíveis.
No dia seguinte, o telefone NÃO tocou... e a solidão voltou.

09/04/2011

Explosão

Como resistir a sua ingenuidade que desperta tantos pensamentos em mim? A sua falta de malícia só aumenta a minha libido e a vontade de lhe beijar. Seus olhos inocentes só despertam em mim um desejo mais forte por percorrer cada parte do seu corpo, como se tais olhos implorassem por algo que nem mesmo você sabe.

Como resistir a alguém que ainda não descobriu o amor, mas que exala paixão por todos os poros do corpo? O sorriso despretensioso e o abraço amigo só me incitam a querer sentir seu corpo junto ao meu por mais tempo.

Sei que cedo ou tarde, você vai despertar, vai se entregar a mim, e sentir todo meu amor explodir em sua direção.

27/03/2011

De quando o amor acaba

E um dia acordou e não soube mais. Simplesmente não soube.

Não soube se era domingo ou segunda, se era manhã, tarde ou noite, se era dia de trabalho ou de folga, se era prá levantar ou voltar prá cama.

Não soube se dizia bom dia pro sol, ou rezava prá chuva, se valia a pena abrir as janelas e descobrir o que o outro lado aprisionava.

A profusão de sentimentos era tão intensa, que não sentia o suficiente para sentir.

Cansado de tanto esforço, de tanto ziguezaguear, titubear, esbarrar e tropeçar, viu-se sozinho, e disso ele gostou.

19/02/2011

Papo de mãe

Os filhos cresceram, e ela surtou. Diziam que ela já não era "boa da cabeça", mas não imaginavam que chegaria a tal ponto.
Ela não bebeu, não fumou e nem cheirou... apenas respirou: Inspiiiiiire... Exxxxxpire... Inspiiiiire... Exxxxxxxpire...
E a lâmina talhou o peito, penetrou no coração, e saiu na mesma velocidade várias e várias vezes deixando registrado no chão de taco o vermelho do ódio e da loucura.
Inspiiiiiiire... Exxxxxxxpire....
E o martelo afundou a testa, o nariz e o queixo, deixando irreconhecível a fisionomia que lembrava o pai.
Os filhos cresceram, e ela surtou.

06/01/2011

Por mais que mastigue, que coma, que beba
Por mais que caminhe, que ande, que corra
Por mais que estude, que trabalhe, que faça
Por mais que pense, que fale, que aja
Por mais que inspire, que expire, que viva
O fim... Ah, o fim... interrompe!
E então, tudo é silêncio e lágrimas...

A simulação real do universo imaginário e presente

  Era um poeta dos sonhos e um pintor das reflexões mais profundas. Sua mente transbordava de ideias surreais, mergulhadas em um mar de dúvi...