Era o avesso invertido do avesso, enroscada em pensamentos insistentes, ideias mancas e vontades lavadas de sangue. Quem a via, não a enxergava, e pela multidão ela passava solitária. Quem consegue ser sozinho no meio de tanta gente e ainda sorrir? Exercita a musculatura: sobe uma bochecha, sobe a outra bochecha e taí o sorriso. Ela não esquece de apertar os olhinhos, pois aí não vão dizer que seu sorriso é "amarelo" já que seus olhos estão sorrindo juntos.
Diplomacia com os outros é como engolir pedras: a saliva fica grossa, mas ela não cospe na cara da gentil pessoa que vomita frases prontas embaladas com papel decorado e laço lilás, ah não. Ela aceita cada um desses presentes, e pela diplomacia engole a saliva grossa feito pedra, que desce como gilete pela sua garganta, que além de levar o gosto de sangue a sua boca, aperta suas cordas vocais, e estrangula aquela voz de raiva pronta pra sair e que fica presa, pendurada nos dentes, e que ali morre.
Ela não sabia mais se sentia dores ou se as dores a sentiam. E seguiu sendo uma perdida numa multidão de outros uns, de outros outros.
Texto: Diego Lana
Arte: Daniela Nunes