Cresceu desimportante num universo de muitas importâncias. Tudo era importante, urgente, imediato, na pressa, no "sangue, suor e lágrimas". Cresceu desimportante dando importância demais para tudo, sem segregação, sem divisão, sem priorização, sem categorização, sem motivação, sem ação de qualquer outra pessoa ao seu redor, a não ser o movimento dentro de si que engatilhava sua ignição.
Cresceu desimportante numa casa cheia de importâncias dadas aos objetos, aos móveis, às regras, às metas e ao seu silêncio. Cresceu desimportante dando importância às notas, e não ao prazer em aprender, dando importância ao professor, e não ao aprendizado, dando importância ao horário de entrada e saída, mas nunca às pausas entre aulas. Não desligava, era importante estar ativo.
Cresceu desimportante numa relação de muitas importâncias vazias. O tio bêbado, o vizinho gênio, o primo pegador, a professora mentirosa... eram todos muito importantes. Eram exemplos. Cresceu desimportante e não aprendeu o que é a desimportância.
Cresceu.
Cresceu e não aprendeu.
Cresceu, e no encontrar-se se perdeu.
Cresceu, e no relacionar-se com outros se apagou.
Cresceu, e o crescimento o levou a um grau de desimportância tão grande, que despencou do alto de uma desimportância.
Caiu na insignificância de si, num universo escuro, de portas trancas e chaves erradas. Não recebe respeito, não recebe contato, não recebe olhares, não recebe atenção. Caiu na insignificância consciente de que a resiliência neste caso não leva a resistência alguma.
Caiu na insignificância. E não há significado que ajude a sair deste quarto escuro.
Não há
v i d a
para quem nasceu
m
o
r
t
o a
.