28/09/2012

BOOM!

5... 4...3... 2... 1... Fechou a porta sem olhar para trás. Sabia que estava arriscando muito sair de lá deixando tudo daquele jeito. No entanto, isso despertava sensações incomparáveis, melhor que qualquer droga. Sempre que pensava no que diriam quando encontrassem aquele lugar daquele jeito, sentia algo parecido com o orgasmo. Nada no mundo poderia dar mais prazer do que fazer o que tinha feito.
Pensou em correr, mas a sensação era tão deliciosa, que diminuiu o passo para ficar mais tempo perto de tudo aquilo. Por fim, sumiu-se.
5... 4... 3... 2... 1... BOOM!

20/05/2012

Em meio ao desespero implacável, pegou uma tesoura e perfurou a mão direita. A lentidão com a qual a tesoura penetrava no dorso de sua mão, ajudava a esquecer da vida. A dor física ultrapassava a dor emocional, e era preciso que fosse devagar, para durar o maior tempo possível.
Sentiu a ponta da agulha tocar o dorso de sua mão direita, o rompimento da pele, e viu o primeiro fio de sangue escorrer. Então, percebendo que não sabia se eram ossos, tendões ou músculos que romperiam primeiro, fechou os olhos por um instante e afundou mais a tesoura.
Permaneceu de olhos fechados até o final, na tentativa de aprofundar a sensação que o perfuramento causava.
Sentiu nervos se romperem, e os movimentos dos dedos cessarem. Abriu os olhos e viu que o fio de sangue há muito tinha aumentado em fluxo, lavando a pia em que apoiava. Afundou mais um pouco, e sentiu o barulho dos ossos quebrarem. 
Diante de tanta dor, sentiu tudo rodar e desmaiou...

25/04/2012

Elegância da decadência

Então chegou como quem não queria nada, bebeu do meu copo, babou na minha cerveja e me encarou. Cambaleava de um lado para o outro, num balé digno de aplausos de quem bebia e jogava nas mesas de plástico. Bebeu do copo de outros e de outras. Falava de seus ódios e seus amores, suas frustrações, dissabores e mentiras. Falava em estupro, em prazer, em música alta, em corpos atados. Babava...
Virou mais um copo, que não era seu. Apoiou-se no meu ombro, depois em outros ombros. De ombro em ombro foi fazendo reverência, mesmo que não fosse essa sua intenção. Não havendo mais ombros, caiu.
O bar fechou. E no final do show elegantemente decadente, um cão ao seu lado recostou.

11/04/2012

Sem

Sem vontade, sem cor, sem gosto. Sem capacidade de mover os dedos. Sem noção, sem amor, sem você.

08/04/2012

Trinta

Os cabelos levaram parte da beleza pelo ralo. As marcas no rosto denunciaram a fuga da juventude. A essa altura, a infância já tinha desaparecido sorrateiramente. Os olhos não brilhavam mais com tanta força, nem enxergavam a vida lá fora com tamanha nitidez. A única certeza é que o cérebro, somente o cérebro, tinha se fortalecido, e se não fosse pelo incrível cérebro, não haveria razão prá seguir, pois a sensibilidade não teria a quem recorrer...
Enfim, 30-trinta.

06/04/2012

Coração de vento

A pulsação havia sumido, ou pelo menos pensou que havia sumido. Tentou sentir no lado do pescoço com o dedo indicar e o dedo médio levemente apoiados sobre o local preciso onde deveria haver pulsação, e nada sentiu. Tentou sentir no pulso, com os mesmos dois dedos, mas nada sentiu. Tomou cuidado, inclusive, de não tentar sentir com o dedão, pois poderia confundir a sensação de batimentos cardíacos.
Sabia que não deveria ter atendido aquela ligação. Sabia. Sentia-se quente, via-se vermelho frente ao espelho, conseguia sentir o sangue percorrendo todo o interior do seu corpo. Mas não achava a pulsação.
O telefone tocou novamente. Sentiu na boca o que não sentia em nenhuma parte do corpo. Sentiu na boca a ritmada batida de um "eu te amo" encurralado entre os dentes, esmagado entre os lábios, e inaudível para seu interlocutor.

A simulação real do universo imaginário e presente

  Era um poeta dos sonhos e um pintor das reflexões mais profundas. Sua mente transbordava de ideias surreais, mergulhadas em um mar de dúvi...