31/12/2017

Príncipe encantado

Exige
Espera
Deposita
Projeta
Acha
Antecipa
Imagina
Segue o padrão 
É o normal
É assim que é
Todo mundo é assim 

Você é especial
Você é lindo
Você é diferente 
Você vai corresponder a todas as expectativas 

Você é feio
Você é mal
Você é igual todo mundo. 


Cada uma pra um lado. Cada um afogado em suas próprias ideias fundamentadas no nada. 

12/12/2017

<* Des *>esperança

Dores e dissabores diluídos nos sabores e amores do vinho tinto e retinto de esperanças afogadas e embriagadas.
A perfeita combinação da ação da luz na escuridão, equilibrada na eterna luta da meia luz, da mea culpa, da meia tristeza, da meia vida, da meia vontade, da meia metade.
Entre luzes tingidas, tontas, embriagadas, luzes que iluminam sem saber o que, entre taças meio cheias, meio vazias, meio duvidosas, entre o ar com aroma de amora e amor, agoniza numa lágrima que afoga toda sua alma.

07/12/2017

Mesmos outros

São outros tempos, outros olhares, outras visões, outras impressões. 
São outros tempos, outras pessoas, outras parcerias, outras conexões. 
São outros tempos, outras alegrias, outras tristezas, outras emoções. 
São outros tempos, outros ritmos, outras melodias, outras canções. 
São outros tempos, outras exigências, outras contingências, outras tentações. 

São tantas outras, tantos outros, tantos tempos, que sou o que nunca fui, e fui o que nunca penso em ser. 


São outros tempos num mesmo relógio de dois ponteiros. 

06/12/2017

Efêmero

Efemeridade:
- das relações
- das aspirações 
- das opiniões
- dos julgamentos
- das vontades 
- dos interesses
- das forças de vontade 
- dos relacionamentos 
- das parcerias 
- das juras de amor
- da eternidade (breve!)
- da brevidade per se 
- da minha vontade de fazer entender 
- da sua vontade de tentar compreender 
- da vida e de viver


Hoje nascimento. Amanhã sepultamento. O que acontece no meio é tão efêmero que o bicho come e não sobra nem um pensamento. 

04/11/2017

Horror

Vulto de um algum nenhum. Borrões coloridos e vomitados em cabelos sujos. Vultos de cores descoloridas com vodca e cloro. Estaca após estaca perfura seu crânio em busca do seu cérebro, aquela bola cinzenta pútrida que ocupa esse espaço.
Blackout. O horror, o horror, o horror.
Nada mais tocou.

Carta a mim

Querido eu mesmo,

Feche os olhos e sinta a música, a batida do coração, do seu e da música. Ouve os passos da criança cega do andar de cima. Criança cega, macabra e assassina.
Concentra... ouve o sino daquela igreja perdida no caos de São Paulo. Ainda se encontram beatas e carpideiras? O som das ondas cerebrais atormentadas lamento fúnebre da portuguesa que agoniza num fado industrial.
Não abra os olhos. A música te diz tudo o que você precisa ouvir. A buzina do carro, o som das ultrapassagens, a imagem da juventude realizada no sangue do asfalto.
Aperte forte suas pálpebras e não deixe esse manto recair sobre seus ombos. Como pode ser um manto branco por completo, e preto por completo, tal qual como o branco, ao mesmo tempo, mas sem sê-lo de fato? As cores não se misturam e não compartilham o espaço devidamente e milimetricamente demarcado. Ouve o fado industrial, ouve o lamento. O manto que absorve a luz na sua alvura repelindo-a com sua treva não permanece sobre seus ombros, mas revela sua imagem.
Abra os olhos e contemple.

Eu mesmo.

Um Homem Só

Era um homem só. Seja porque era só ou porque era um homem. E porque era um homem, só, e um homem só, ele trocaria todas as trilhas que levariam a romaria para ilha finita. Os sons dos pássaros e dos tiros soariam e ressonariam nos seus tímpanos, no seu íntimo e não mais os ouviriam. Era a hora, lá fora.
Era um homem só, que de tão só, e da vontade de ser só, e por ser um homem só, da romaria não queria nem a vida de quem pegasse aquela trilha. Não era bons, vermelho eram seus tons. E lá sabiam o que fariam com membros sangrentos que se contorciam e tremendo iam e iam e iam... Já não era a fauna nem a flora, era algo entre ontem e agora.
Era um homem só, só era um homem só. 

23/06/2017

Vinho

Ela não usava batom, nem blush e nem sombra nos olhos. As bochechas coradas e a boca vermelha eram tintas de vinho. 
Vinho também era sua lingerie, usada mil vezes e de novo. Era sua preferida, comprada na feira de domingo depois de comer um pastel de palmito. 
Vinho também era sua saia, tão curta quanto sua vontade de ser aceita na sociedade. Aliás, que sociedade aceita um vinho seco em goles largos? É preciso degustar, dizem por aí. 
Ela degustava a vida a goles largos. 
Vinho nas três refeições do dia (isso quando eram três). Meu estômago, minhas regras. 
Vinho na garrafa. Vinho na lágrima. Vinho no sangue. 
Sangue vinho tinto e retinto, às 6 da manhã, numa sarjeta qualquer. Sangue vinho tinto e retinto daquela que não só dava prazer, mas era o prazer. 

30/05/2017

Para sempre

Ela tinha essa mania de fingir. Fingia que era bonita, fingia que era da galera, fingia que era descolada, fingia que curtia umas paradas proibidas, fingia que era cult, fingia que era a mina do boteco, fingia que era a madame da Chanel. 
Ela tinha essa mania de acreditar. Acreditava que era bonita, acreditava que era da galera, acreditava que era descolado, acreditava que curtia umas paradas proibidas, acreditava que era cult, acreditava que era o mulherão do boteco, acreditava que era a Lady da Chanel. 
Hoje ela tem essa certeza de saber. Sabe que já foi bonita, sabe que nunca foi da galera, sabe que era super brega, sabe que viciou numas paradas proibidas sem nem ao menos gostar, sabe que não é cult, sabe que é a puta do boteco, sabe que sua moda é sua pele nua. 
Ela sabe. Ela tem certeza. Ela é mais feliz do que tinha mania de fingir e de acreditar. 

25/05/2017

O nascer da morte.

Acordou e olhou pro lado. Contemplou aquela imagem diária é maravilhosa de todas as manhãs: a cama vazia. 
Sorriu, deu bom dia ao espaço preenchido de nada e morreu. 

24/05/2017

Anos depois

Anos depois. Depois de ter ido ao inferno e voltado. Anos depois. Depois de enjoar, sentir saudade e enjoar de novo. Anos depois. Depois de envelhecer e rejuvenescer. São anos e anos depois. 
Descobertas, bocas abertas, portas entreabertas, conversas com a Roberta.
Evoluções, soluções, envolvimentos, sentimentos, anos luz distante, 13 anos adiante. 
Garrafas vazias, mente cheia, coração vazio, de sangue o corpo cheio. Manda uma cachaça, uma rechaça, uma carcaça e aspire as traças. 
Acende cigarro, apaga a luz. Acende a luz, apaga o cigarro. 
Apareceu mais uma ruga. 
Apareceu mais um fio branco. 
Apareceu mais uma mancha. 
Apareceu mais um suspiro. 
Apareceu mais um soluço. 
Apareceu mais uma súplica. 
Apareceu mais uma dose. 
Apareceu mais um ano. 
Desapareceram vários outros anos da cabeça caduca e confusa e cabeluda.
Anos e anos depois. E cá estamos de volta ao início do novo início já iniciado tantas vezes antes. Anos e anos depois, bem-vindo ao velho novo início. 

A simulação real do universo imaginário e presente

  Era um poeta dos sonhos e um pintor das reflexões mais profundas. Sua mente transbordava de ideias surreais, mergulhadas em um mar de dúvi...