30/05/2017

Para sempre

Ela tinha essa mania de fingir. Fingia que era bonita, fingia que era da galera, fingia que era descolada, fingia que curtia umas paradas proibidas, fingia que era cult, fingia que era a mina do boteco, fingia que era a madame da Chanel. 
Ela tinha essa mania de acreditar. Acreditava que era bonita, acreditava que era da galera, acreditava que era descolado, acreditava que curtia umas paradas proibidas, acreditava que era cult, acreditava que era o mulherão do boteco, acreditava que era a Lady da Chanel. 
Hoje ela tem essa certeza de saber. Sabe que já foi bonita, sabe que nunca foi da galera, sabe que era super brega, sabe que viciou numas paradas proibidas sem nem ao menos gostar, sabe que não é cult, sabe que é a puta do boteco, sabe que sua moda é sua pele nua. 
Ela sabe. Ela tem certeza. Ela é mais feliz do que tinha mania de fingir e de acreditar. 

25/05/2017

O nascer da morte.

Acordou e olhou pro lado. Contemplou aquela imagem diária é maravilhosa de todas as manhãs: a cama vazia. 
Sorriu, deu bom dia ao espaço preenchido de nada e morreu. 

24/05/2017

Anos depois

Anos depois. Depois de ter ido ao inferno e voltado. Anos depois. Depois de enjoar, sentir saudade e enjoar de novo. Anos depois. Depois de envelhecer e rejuvenescer. São anos e anos depois. 
Descobertas, bocas abertas, portas entreabertas, conversas com a Roberta.
Evoluções, soluções, envolvimentos, sentimentos, anos luz distante, 13 anos adiante. 
Garrafas vazias, mente cheia, coração vazio, de sangue o corpo cheio. Manda uma cachaça, uma rechaça, uma carcaça e aspire as traças. 
Acende cigarro, apaga a luz. Acende a luz, apaga o cigarro. 
Apareceu mais uma ruga. 
Apareceu mais um fio branco. 
Apareceu mais uma mancha. 
Apareceu mais um suspiro. 
Apareceu mais um soluço. 
Apareceu mais uma súplica. 
Apareceu mais uma dose. 
Apareceu mais um ano. 
Desapareceram vários outros anos da cabeça caduca e confusa e cabeluda.
Anos e anos depois. E cá estamos de volta ao início do novo início já iniciado tantas vezes antes. Anos e anos depois, bem-vindo ao velho novo início. 

A simulação real do universo imaginário e presente

  Era um poeta dos sonhos e um pintor das reflexões mais profundas. Sua mente transbordava de ideias surreais, mergulhadas em um mar de dúvi...