18/04/2013

Quando ela chegar

Inexorável. Acordou sem dar bom dia. Caminhou como um bêbado até o banheiro sujo. Aliás, sujo estava todo o seu lar, ou seria uma cova? Com a preocupação como a daqueles sem amor, acertou o jato na tampa do vaso sanitário. Qual diferença faria se além de podre, a descarga há muito não funcionava?
Inexorável. Olhou para o espelho, e viu nele refletido a decadência do viver, o sofrimento em respirar, a tormenta em se ouvir o próprio coração batendo, num rítmo lento que mais lembrava uma marcha fúnebre para um moribundo que nunca morria.
Inexorável. A garganta seca sangrava, os dentes podres emanavam o perfume tal qual o de um cadáver. Sua língua pintada de um branco doentio acentuava a alvura da sua barba longa e embaraçada.
Mofo nas paredes, no teto, nos armários, nos cobertores e na mente. Sentimentos mofados. Vontades mofadas.
Inexorável. Repetia a si mesmo. "Inexorável é a morte. Eu, que a desejo tanto, não a posso ter. Mas quando ela chegar, inexorável será."

A simulação real do universo imaginário e presente

  Era um poeta dos sonhos e um pintor das reflexões mais profundas. Sua mente transbordava de ideias surreais, mergulhadas em um mar de dúvi...