29/10/2022

Ciclo eterno da repetição

https://drive.google.com/uc?export=view&id=1keKGW-VU0xP2hUJEGi9XCEOxmwNoow8e
Num ciclo eterno do que pode vir a ser, o que é e o que foi, me perco nas opções irresistíveis, infalíveis e, ao mesmo tempo inexistentes. Como posso tanto querer abrir uma das portas de tomada de decisão dentre tantas outras portas?
O fato é que cada porta leva a uma sala etérea, branca, reunindo todas as outras possibilidades descartadas de forma que estivessem sentadas em cadeiras dispostas em semicírculos somente para observar minha cara de espanto ao ver todas elas lá me julgando por não tê-las escolhido  
E mesmo que eu quisesse tomar outra decisão e ir para outra possibilidade, nenhuma delas é a mesma de antes, pois já haviam sido modificadas pela minha escolha - ou não escolha - remexidas no caldeirão das posibilidades descartadas. 
Me tornei escravo das minhas invenções que limitam meu livre arbítrio. Por outro lado, também me torno livre das invenções não inventadas, das possibilidades impossíveis, da eterna contradição de ser livre para tudo, menos para deixar de ser livre, e nisso me aprisiono na minha própria lembrança perturbada constantemente pelas vozes da minha cabeça que me contam a minha própria história como uma obra ficcional de dor, sofrimento, arrependimento e ausência de fôlego  
Não quero me demorar nesta vida além do bastante para que minha partida seja a solução, mas nunca a fuga. Para as salas com escolhas descartadas que me julgam constantemente: a vocês eu dedico a finitude do ser, do querer e do viver. 

23/10/2022

40 anos?

 https://drive.google.com/uc?export=view&id=1AuKaI48USsjx-NNU3z7QfRBfsgeIkKs_

Esse é o Soju. Quando algo que lhe parece estranho acontece, ele se esconde tão bem escondido, que já chegamos a achar que ele tinha fugido. Pois eu o entendo!


Entre ontem e hoje eu fui do céu ao inferno e voltei. Alguns acontecimentos na minha vida me fizeram abrir os olhos para uma nova possibilidade, ou para perceber que a possibilidade sempre esteve na minha frente, e eu, afundado numa rotina alucinante que me consumia numa velocidade altíssima feito fogo em folhas secas, estava me perdendo de mim mesmo. 

Ou simplesmente posso dizer que o clichê de “a vida começa aos 40” na verdade é uma frase mal interpretada por mim mesmo antes de finalmente chegar nos 40. 

O que quer dizer que a vida começa aos 40? Eu não diria que o que acontecia antes era ruim. Pelo contrário, tudo que me ocorreu me possibilitou estar preparado para os 40! Para meus últimos 40 anos, talvez… 

Dê o nome que quiser: recomeço, ressignificação, renascimento ou reinício. Eu prefiro chamar de redescobrimento, releitura, reinterpretação ou, simplesmente, de maturidade. Será? 

Entre ontem e hoje eu vivi a angústia e senti a respiração da finitude na minha nuca, a mesma que também sussurrava que de agora em diante é a caminhada para o fim. O início da contagem regressiva para o fim iminente da finitude eminente.

Sabia que iminente e eminente são parônimos? Mas isso não vem ao caso. 

A eminente finitude iminente existe e se materializou para mim num quarto de hospital. Ela dizia coisas horríveis, que me fizeram sentir o cheiro do coração que para, o cheiro do cérebro que desliga, o cheiro da pele que esfria, o cheiro dos músculos que enrijecem, e o cheiro do sangue apodrecido. Esse cheiro nunca há de sair do meu nariz. Junto com ele o cheiro da conformidade com a finitude de tudo que nasce e que um dia morre, que um dia apodrece, e que nutre a terra com vermes satisfeitos por consumirem o resto do resto do resto da vida. 

Dizem que morrer e continuar vivendo é a pior morte. Eu digo que ter certeza de que vale a pena viver e a certeza igual de que não vale a pena é o maior paradoxo da existência. 

Já dei valores inestimáveis ao que nunca de fato teve valor algum. Mas com 40 anos as coisas mudam, e dar ou não dar valor a isso ou aquilo se torna uma arbitrariedade ridícula, vazia e guiada pela conformidade que nunca foi minha, mas inserida pelos outros. 

E de repente, depois de ter despencado do céu, ido até o inferno, conhecido a mesquinhez e estupidez humana, ter reconhecido o tempo desperdiçado com invenções humanas que se aperfeiçoam para me escravizar, eu quebro as algemas que me colocaram ao nascer, declaro minha independência e digo: aqui jaz 39 anos de tempo perdido - ainda mais sabendo que o tempo é só mais uma invenção inescrupulosa para ditar as regras da morte - e declaro o reconhecimento de que eu sou tudo aquilo que não pude ser até horas atrás, e que isso não tem volta. 

É, Soju. As vezes eu só queria fazer igual você e entrar em algum canto qualquer, numa caverna talvez, e ignorar Platão.

A simulação real do universo imaginário e presente

  Era um poeta dos sonhos e um pintor das reflexões mais profundas. Sua mente transbordava de ideias surreais, mergulhadas em um mar de dúvi...