Ao longo da vida desempenhei tantos papeis que não é nenhuma novidade. Me formei ator numa famosa escola chamada Sofrimento.
Dos diversos papeis, o mais marcante talvez tenha sido numa peça chamada infância, na qual as outras personagens diminuíam, provocavam, maltratavam e espancam a minha personagem. Foi tão marcante, que eu jurei nunca mais interpretar algo semelhante. Até hoje lembro das falas e dos sentimentos evocados.
Agora estou neste palco, diante de vocês para interpretar um novo papel: o da decadência humana.
Seja na minha pele flácida, que esconde minhas dores e tristezas entre as rugas, seja na minha barba branca, que brilha toda minha amargura (mas o que importa é o brilho resplandecente), seja na minha falta de força nas pernas, que já não sustentam todo o sofrimento que carrego nos ombros.
Conte comigo. Eu sou perfeito pra este papel tão autobiográfico.