01/06/2018

Fortaleza de casca

São fortalezas gigantescas, imponentes, resistentes ao tempo, à força do vento e da água. Impressionam pelo tamanho. Impressionam pela audácia de não terem ido ao chão. 
Pessoas são fortalezas vazias, que impressionam pela casca decepcionam pelo oco, pelo eco, pelo vácuo, pelo nada. Mas ainda sim impressionam. Impressionam porque fortalezas são dissimuladas, e eu falo pelas duas: a de tijolo e a de sangue. São dissimuladas porque não se prestam a papel algum, pois estão apoiadas, alicerçadas, cimentadas, estagnadas em si mesmas, pois não viajam no espaço e nem no tempo. 
As fortalezas chamam atenção, recebem visitas, todos querem uma foto, uma lembrança, uma lasca do concreto, uma lasca da casca, um fio de cabelo ou um pedaço de pano. Alá quanta gente, alá quanta foto, alá quanta festa, quanto louvor. Deixa, deixa passar... deixa, deixa o dia ir... deixa que a noite é blasé, a noite faz cara de paisagem, a noite está ocupada demais em ser noite e vai deixar essas fortalezas mergulhadas em sus próprias solidões (no plural, porque o que tem de imponente, tem de vazia). É só casca.
Só.
Casca.

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