20/08/2020

Cinzas

Soprou pro alto o que restava de sua energia vital. Queimou na ponta do cigarro pra ver em forma de fumaça o sorriso da sua alma. No fundo do copo afogou sua dignidade. 

Para que serve a vida senão para morrer? 

Ainda mais ele que nem pra morrer tinha dom. Costumava dizer que seu dom era poder furtar-se à sua responsabilidade de ter um, mesmo que essa contradição gritasse qual era o seu maior dom: negar o que não pode ser negado, na contramão da obscurantismo que é a vida.

E como cinza de bituca, num canto de calçada sobre a tampa de um bueiro, misturou-se ao pó e para o início retornou. 

Um comentário:

Patricia disse...

Que coisa mais linda !

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