18/02/2022

Morte pulsante

 A cortina que dividia a sala e o quarto não era fina nem grossa, mas era densamente branca e hipnotizante. Pensava em vapor, mas com esse odor não podia ser vapor. 

Nua ou vestida, o que importa quando nada mais importa? O preço nada mais é que um valor inventado numa sociedade domesticada. E o problema é minha cortina? 

Essa fumaça é densa como meu sangue. Suspenso no ar meu DNA registra sua marca no espaço-tempo: outra invenção. Já experimentou anular o significado das coisas na tentativa de encerrar essa coisa em si mesma? Adianto aqui: não tente porque você perceberá que estará inevitavelmente recorrendo ao pré estabelecido, ao que fizeram você acreditar. 

A religião tem sua própria cortina: defuma-se o salão da igreja católica para espantar espíritos ruins? Não. Procure sobre os hábitos sanitários da época e saberá a origem da defumação na igreja. 

O ser humano fede. Fede porque o ensinaram desde sempre a anular-se: tire seu cheiro de humano com água e sabão. Desumanize-se, mas pregue a humanização. Desumanize-se e intoxique-se para suportar a tristeza de ser humano. 

Feche sua cortina de fumaça. Delírio é o modo mais sincero da realidade. De quem?

Nenhum comentário:

A simulação real do universo imaginário e presente

  Era um poeta dos sonhos e um pintor das reflexões mais profundas. Sua mente transbordava de ideias surreais, mergulhadas em um mar de dúvi...