Entre a denúncia do espelho e a renúncia da vida, reside o desejo e o medo do fim.
Ao mesmo tempo, existe esse desejo de nunca terminar potencializado pelo medo de que nunca termine: que sempre acentue-se a marca na pele, a beleza do opaco, a acidez de respirar e o desespero tenebroso de existir.
Nunca me reconheci em mim, sempre me busquei no outro. Onde estava eu, senão em mim mesmo, senão no outro, senão em todo e nenhum lugar ao mesmo tempo?
Sou uma antítese por natureza, sou polos que se anulam, sou extremos enfraquecidos, sou o antônimo do oposto, sou uma luz onde se é claro, sou o silêncio do cemitério, sou o verme de um cadáver qualquer.
Me condeno pelas memórias, me orgulho das vitórias que não existiram, me arrependo de não ter sido, visto, ido, feito, sabido, falado, agido, matado, morrido.
Quantas vezes morri para conseguir viver? Morri em mim tantas vezes que não sei se sou o que restou, ou se sou algo outro… algo outro… outro algo que nunca saberá se é, ou se precisou ser.
Se o caos é minha mente, se a dor é pulsante, sou o inexistente.
Não existo em mim, nunca existi.
Mas essas rugas, essa pele que escorre feito choro de vela, deforma o que vejo, mas reforma o que sinto.
A grande dádiva é o grande castigo. E o castigo passa a ser bem vindo quando se percebe que o tempo passou, e as areais do tempo já estão quase que preenchendo por completo a parte inferior desta ampulheta.
O que resta?
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