23/06/2017

Vinho

Ela não usava batom, nem blush e nem sombra nos olhos. As bochechas coradas e a boca vermelha eram tintas de vinho. 
Vinho também era sua lingerie, usada mil vezes e de novo. Era sua preferida, comprada na feira de domingo depois de comer um pastel de palmito. 
Vinho também era sua saia, tão curta quanto sua vontade de ser aceita na sociedade. Aliás, que sociedade aceita um vinho seco em goles largos? É preciso degustar, dizem por aí. 
Ela degustava a vida a goles largos. 
Vinho nas três refeições do dia (isso quando eram três). Meu estômago, minhas regras. 
Vinho na garrafa. Vinho na lágrima. Vinho no sangue. 
Sangue vinho tinto e retinto, às 6 da manhã, numa sarjeta qualquer. Sangue vinho tinto e retinto daquela que não só dava prazer, mas era o prazer. 

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