23/10/2022

40 anos?

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Esse é o Soju. Quando algo que lhe parece estranho acontece, ele se esconde tão bem escondido, que já chegamos a achar que ele tinha fugido. Pois eu o entendo!


Entre ontem e hoje eu fui do céu ao inferno e voltei. Alguns acontecimentos na minha vida me fizeram abrir os olhos para uma nova possibilidade, ou para perceber que a possibilidade sempre esteve na minha frente, e eu, afundado numa rotina alucinante que me consumia numa velocidade altíssima feito fogo em folhas secas, estava me perdendo de mim mesmo. 

Ou simplesmente posso dizer que o clichê de “a vida começa aos 40” na verdade é uma frase mal interpretada por mim mesmo antes de finalmente chegar nos 40. 

O que quer dizer que a vida começa aos 40? Eu não diria que o que acontecia antes era ruim. Pelo contrário, tudo que me ocorreu me possibilitou estar preparado para os 40! Para meus últimos 40 anos, talvez… 

Dê o nome que quiser: recomeço, ressignificação, renascimento ou reinício. Eu prefiro chamar de redescobrimento, releitura, reinterpretação ou, simplesmente, de maturidade. Será? 

Entre ontem e hoje eu vivi a angústia e senti a respiração da finitude na minha nuca, a mesma que também sussurrava que de agora em diante é a caminhada para o fim. O início da contagem regressiva para o fim iminente da finitude eminente.

Sabia que iminente e eminente são parônimos? Mas isso não vem ao caso. 

A eminente finitude iminente existe e se materializou para mim num quarto de hospital. Ela dizia coisas horríveis, que me fizeram sentir o cheiro do coração que para, o cheiro do cérebro que desliga, o cheiro da pele que esfria, o cheiro dos músculos que enrijecem, e o cheiro do sangue apodrecido. Esse cheiro nunca há de sair do meu nariz. Junto com ele o cheiro da conformidade com a finitude de tudo que nasce e que um dia morre, que um dia apodrece, e que nutre a terra com vermes satisfeitos por consumirem o resto do resto do resto da vida. 

Dizem que morrer e continuar vivendo é a pior morte. Eu digo que ter certeza de que vale a pena viver e a certeza igual de que não vale a pena é o maior paradoxo da existência. 

Já dei valores inestimáveis ao que nunca de fato teve valor algum. Mas com 40 anos as coisas mudam, e dar ou não dar valor a isso ou aquilo se torna uma arbitrariedade ridícula, vazia e guiada pela conformidade que nunca foi minha, mas inserida pelos outros. 

E de repente, depois de ter despencado do céu, ido até o inferno, conhecido a mesquinhez e estupidez humana, ter reconhecido o tempo desperdiçado com invenções humanas que se aperfeiçoam para me escravizar, eu quebro as algemas que me colocaram ao nascer, declaro minha independência e digo: aqui jaz 39 anos de tempo perdido - ainda mais sabendo que o tempo é só mais uma invenção inescrupulosa para ditar as regras da morte - e declaro o reconhecimento de que eu sou tudo aquilo que não pude ser até horas atrás, e que isso não tem volta. 

É, Soju. As vezes eu só queria fazer igual você e entrar em algum canto qualquer, numa caverna talvez, e ignorar Platão.

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