10/12/2013

Hospitandometria

Conversava tentando uma naturalidade para tentar disfarçar o nervosismo. As luzes estavam fortes na sua cara, mas preferia fixar no branco das luzes do que no das paredes. A conversa estava meio embaralhada, quando foi questionada o que ela mais gostaria de fazer quando terminasse todo o procedimento. 
Ela não acreditava que um unicórnio falasse, mas lá estava ele conversando sobre as amenidades de um Carnaval. Mas ela, como boa passista que era, viu que o unicórnio sabia bastante sobre nossas festividades. 
Mas não bastasse, um intrometido cão alado pousou sobre os seios dela, afofou, deu uma volta, e deitou. O unicórnio aplaudia com suas patas de ganso, o pouso perfeito do cão. 
Ela, que não queria parecer rude, tentou falar para que o cão alado gentilmente saísse de cima dos seus seios, que antes vestidos estavam desnudos, não se sabe como, estavam sem nenhuma proteção, e as penas do cão estavam irritando sua pele. 
Mas ao invés de voz, bolas vermelhas saíam de sua boca sem som algum. Eram bolas pequenas, desformes, que flutuavam sobre o ar e estouravam na ponta do chifre do unicórnio. De cada bola estourada, um sapo de olhos vermelhos aparecia e dizia "o fim está próximo". 
Já acostumada com tamanho absurdo, fechou a boca na tentativa de engolir essas bolas vermelhas, mas havia perdido o controle. O unicórnio vibrava com cada bola que flutuava no ar, corria freneticamente de um lado  para o outro, estourando cada bolha e matando cada sapo dessa bolha com suas patas de ganso. Já o cão alado...
Fechou os olhos por um instante. Abriu. Viu as luzes brancas. Não sentia mais o incômodo de antes. Sentia sede. Não via mais o cão, nem o unicórnio, e em vão procurou as bolas vermelhas flutuantes. 
Estava livre. 
Livre.

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  Era um poeta dos sonhos e um pintor das reflexões mais profundas. Sua mente transbordava de ideias surreais, mergulhadas em um mar de dúvi...