14/08/2022

A droga que se é: fume-a.

Naquele domingo à noite se deu conta que estava entorpecida pela realidade. Estava mais do que exausta de tanto se esforçar em respirar. Não aguentava mais ter que inspirar e expirar, ela queria mesmo era fazer fumaça. Muita fumaça. 

Decidiu então fazer o que deveria ser feito para a fumaça subir. Com a ajuda de um espelho para ajudar a ter mais precisão e um cutelo para ir mais rápido, ela tratou de se fatiar e depois cortar em pequenos cubinhos de si mesma. Não satisfeita, ralou-se. 

Juntou partículas de si mesma e bolou no mais belo beque que se já ouviu falar. Se achava tão grande e valiosa, acima de tudo, maior que Deus, universo e multiverso juntos, sem nem mesmo ter se dobrado ao diabo, se acha tão superior que por si só se fumaria em tragos demorados. 

Por segundos estaria esfumaçada e aprisionada no pulmão de quem a fumasse e em seguida a liberasse por aí, carregando junto de si as memórias de quem a fumou. 

Os canibais modernos fumam tanto de si, que nenhuma droga é mais poderosa do que a droga que se é. 


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